domingo, 4 de abril de 2010

Sobre o anonimato da dor


"...Neste lugar, a que chamam Gólgota, muitos são os que tiveram o mesmo destino fatal e outros muitos virão a ter, mas este homem, nu, cravado de pés e mãos numa cruz, filho de José e Maria, Jesus de seu nome, é o único a quem o futuro concederá a honra da maiúscula inicial, os mais nunca passarão de crucificados menores. É ele, finalmente, este para quem apenas olham José de Arimateia e Maria Madalena, este que faz chorar o sol e a lua, este que ainda agora louvou o Bom Ladrão e desprezou o Mau, por não compreender que não há nenhum diferença entre um e outro, ou, se diferença há, não é essa, pois o Bem e o Mal não existem em si mesmos, cada um deles é somente a ausência do outro. Tem por cima da cabeça, resplandecente de mil raios, mais do que, juntos o sol e a lua, um cartaz escrito em romanas letras que o proclamam Rei dos Judes, e, cingindo-a, uma dolorosa coroa de espinhos, como a levam, e não sabem, mesmo quando não sangram para fora do corpo, aqueles homens a quem não se permite que sejam reis em suas próprias pessoas..."

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