Esta representação dos órgãos internos do corpo humano foi tirada de um anúncio do analgésico Paradison, exibido nas vitrines de todas as farmácias de Istambul na época, e a exponho aqui para mostrar ao visitante do museu onde a agonia do amor apareceu primeiro, onde se tornou mais pronunciada e, depois, até onde se espalhou...
É preciso explicar para os leitores sem acesso a nosso museu que a dor mais acentuada manifestava-se inicialmente no quadrante superior esquerdo do estômago. À medida que se intensificava, a dor se difundia, como indica o desenho, para a cavidade situada entre os pulmões e o estômago. A essa altura, sua presença não se limitava mais ao lado esquerdo do abdome, instalava-se também no direito, e eu tinha a impressão de que enfiavam em mim a ponta de um atiçador, ou uma chave de fenda. Era como se meu estômago, e depois todo o meu abdome, se inundasse de ácido, como se pequenas estrelas-do-mar pegajosas e em brasa grudassem nos meus órgãos internos. À medida que a dor se espalhava e crescia, eu sentia subir pela nuca até a testa, descendo pelos ombros para se espalhar por todo o corpo, invadindo até mesmo meus sonhos e se apossando totalmente de mim.
Às vezes, como aparece no diagrama, uma estrela de dor se formava a partir do meu umbigo e emitia raios de ácido que chegavam à garganta e à boca, e eu tinha medo de que me sufocasse. Se eu batesse com a mão na parede, tentasse alguns exercícios de ginástica ou de algum modo me contraísse como um atleta, conseguia bloquear a dor por algum tempo, mas mesmo quando ela estava mais contida eu sentia sua presença como um gotejamento endovenoso pingando sempre em minha corrente sanguínea, e presente o tempo todo no meu estômago, que era seu epicentro.
domingo, 16 de outubro de 2011
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