domingo, 16 de outubro de 2011

O mapa anatômico das dores de amor

Esta representação dos órgãos internos do corpo humano foi tirada de um anúncio do analgésico Paradison, exibido nas vitrines de todas as farmácias de Istambul na época, e a exponho aqui para mostrar ao visitante do museu onde a agonia do amor apareceu primeiro, onde se tornou mais pronunciada e, depois, até onde se espalhou...
É preciso explicar para os leitores sem acesso a nosso museu que a dor mais acentuada manifestava-se inicialmente no quadrante superior esquerdo do estômago. À medida que se intensificava, a dor se difundia, como indica o desenho, para a cavidade situada entre os pulmões e o estômago. A essa altura, sua presença não se limitava mais ao lado esquerdo do abdome, instalava-se também no direito, e eu tinha a impressão de que enfiavam em mim a ponta de um atiçador, ou uma chave de fenda. Era como se meu estômago, e depois todo o meu abdome, se inundasse de ácido, como se pequenas estrelas-do-mar pegajosas e em brasa grudassem nos meus órgãos internos. À medida que a dor se espalhava e crescia, eu sentia subir pela nuca até a testa, descendo pelos ombros para se espalhar por todo o corpo, invadindo até mesmo meus sonhos e se apossando totalmente de mim.
Às vezes, como aparece no diagrama, uma estrela de dor se formava a partir do meu umbigo e emitia raios de ácido que chegavam à garganta e à boca, e eu tinha medo de que me sufocasse. Se eu batesse com a mão na parede, tentasse alguns exercícios de ginástica ou de algum modo me contraísse como um atleta, conseguia bloquear a dor por algum tempo, mas mesmo quando ela estava mais contida eu sentia sua presença como um gotejamento endovenoso pingando sempre em minha corrente sanguínea, e presente o tempo todo no meu estômago, que era seu epicentro.