segunda-feira, 31 de maio de 2010

Sobre os nossos referenciais...

Uma única e mesma coisa pode ser ao mesmo tempo boa, má e indiferente. Por exemplo, a música é boa para os melancólicos, má para aqueles que estão de luto, e nem boa nem má para os surdos.

domingo, 30 de maio de 2010

Sobre a dor do auto-conhecimento...

Como pode ser percebido pelos meus posts, estou lendo a biografia de Clarice Lispector, de Benjamim Moser. Passei hoje da metade do livro de 638 páginas, mas não sei se conseguirei chegar até o fim, tamanha a dor que sinto ao avançar na história. Acho que é a dor do auto-conhecimento. Encontro nela uma compreensão jamais experimentada... Como seus conflitos interiores, embora as causas exteriores sejam tão diversas, se parecem com os meus... Já cheguei ao ponto de fechar o livro às pressas, com um sentimento próximo do pavor. Já chorei copiosamente, mas felizmente não me consolei, porque não quero me consolar dela, nem de mim.

Sobre a inteligência e outros perigos...


Teve tal repugnância pelo fato de ter quase pensado que apertou os dentes em dolorosa careta de fome e desamparo - virou-se inquieto para todos os lados do descampado procurando entre as pedras um meio de recuperar a sua potente estupidez anterior que para ele se havia tornado fonte de orgulho e domínio.
[...] Com enorme coragem, aquele homem deixara enfim de ser inteligente.

Sobre o nosso egocentrismo...

Os homens geralmente supõem que todas as coisas da natureza agem, como eles, com alguma meta em mente, e até mesmo sustentam a certeza de que o próprio Deus conduz tudo em direção a uma certa meta... Eles acreditam que tudo foi criado tendo-os em mente e dizem que a natureza de uma coisa é boa ou ruim, saudável ou doente e corrompida, dependendo de como eles próprios são afetados por ela.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Sobre aquilo que me move...

Acho que todas as coisas importantes que fiz na vida foram por impulso.

Foi num impulso que, segundo minha mãe, comecei a falar, aos 7 meses. Num impulso, me apaixonei pela primeira vez (e todas as outras), ao ver que ele tinha um sorriso lindo. Desisti do Direito porque achei que seria muito chato. Escolhi Veterinária. Desisti de um concurso público para tentar um vôo mais emocionante. E mais arriscado, sim. Num impulso aprendi a ter uma empresa, e um milhão de responsabilidades. E a não ter tempo para ser mãe. Pelo menos por hora. Num impulso quis que fosse para sempre. E não foi. Num impulso, aprendi a perder. E a desistir – que também é um ato que exige grande coragem.

O que eu chamo de impulso talvez seja uma batida mais forte do coração que, de tão intensa, traz junto com ela um empurrão. Nunca fui de ruminar muito as coisas, de planejar. Sempre prestei atenção aos sinais e os segui. Confio no que é feito com esse coração que bate forte confirmando.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Sobre o fato de que ninguém nasce mulher...


"...Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam de feminino. Somente a mediação de outrem pode constituir um indivíduo como um Outro. Enquanto existe para si, a criança não pode apreender-se como sexualmente diferenciada. Entre meninas e meninos, o corpo é, primeiramente, a irradiação de uma subjetividade, o instrumento que efetua a compreensão do mundo: é através dos olhos, das mãos e não das partes sexuais que apreendem o universo. O drama do nascimento, o da desmama desenvolvem-se da mesma maneira para as crianças dos dois sexos; têm elas os mesmos interesses, os mesmos prazeres. Até os doze anos a menina é tão robusta quanto os irmãos e manifesta as mesmas capacidades intelectuais; não há terreno em que lhe seja proibido rivalizar com eles. Se, bem antes da puberdade e, às vezes, mesmo desde a primeira infância, ela já se apresenta como sexualmente especificada, não é porque misteriosos instintos a destinem imediatamente à passividade, ao coquetismo, à maternidade: é porque a intervenção de outrem na vida da criança é quase original e desde seus primeiros anos sua vocação lhe é imperiosamente insuflada..."

sábado, 22 de maio de 2010

Memórias do Bauzinho...


Estava tentando matar o meu tão precioso e escasso tempo no aeroporto de Guarulhos, quando recebi uma mensagem no e-mail: "Flávia, o bauzinho de memórias está lindo!!!! Não me canso de ler. Não deixe de escrever sempre!!! Bjs, Soraya!"

Vinda de uma prima tão querida, com quem passei os melhores dias da minha infância e "aborrescência", não podia deixar de me emocionar. Como já disse outras vezes, não criei esse blog pensando em quem ia ler as postagens. Foi antes uma forma de me forçar a escrever sobre assuntos não-técnicos, o que às vezes é muito difícil para quem trabalha especificamente com editoração de artigos. Mas, saber que alguém tão especial tem lido e gostado, é muito bom!

Como não podia deixar de ser, a mensagem me fez lembrar da Soraya e, consequentemente, voltar em um tempo dos mais bem vividos, quando quase tudo era alegria. Fez lembrar também da minha outra prima, Daisy, e do trio inseparável que éramos. E, é claro, também dos meus queridos tios, Maria Esther e Antônio, o "Titoim", meu segundo pai, de quem sinto uma saudade imensa. Como essa família foi importante na minha formação pessoal e das minhas referências e valores! Ali eu não era sobrinha, era filha; não era prima, era irmã.

Meu tio era uma pessoa das mais espetaculares que já existiu. Foi seminarista convicto, tão convicto que bastou olhar para a linda italianinha Maria Esther para desistir imediatamente de ser padre. Era um homem de visão! Tanta visão que, na era Sarney, quando todos sofriam com a inflação e falta de produtos básicos, ele tinha uma despensa com quilos de arroz, feijão, carne congelada, e outros itens essenciais como leite condensado e 1000 canetas Bic...rsrsrs. Estava sempre de bom humor e, ao contrário do irmão (meu pai), tinha um espírito aventureiro que eu adorava. Gostava de viajar, acampar e sempre foi empreendedor. Vendeu aparelhos de som, fabricou sabão e criou codornas dentro de casa, até encontrar seu grande talento e, junto com toda a família, montar uma empresa e criar os bolos de festa mais lindos do Brasil.

Acho que todos, quando crianças, têm alguém com quem gostariam de se parecer quando crescessem. No meu caso, era a Soraya. Queria ser bonita como ela, esperta nos jogos e brincadeiras (aliás, nesse quesito ela sempre me classificou como lerda), falar das coisas interessantes que só ela sabia e, mais tarde, abraçar e beijar um namorado como ela fazia com os dela... Aliás, esse é um capítulo à parte nas nossas histórias. Foi a Soraya que me ensinou o que fazer no momento do tão temido "primeiro beijo". E com aulas práticas! Quantas horas passei com um gomo de mexerica entre os lábios...rsrsrsrs.

Fomos meninas de uma época antes do computador e do celular. Nos fins de semana andávamos de bicicleta por todo o bairro e passavamos horas brincando de boneca e de "Deusa", jogando Banco Imobiliário, pulando amarelinha ou corda, fazendo cabaninhas no quarto  e transformando o quarteirão da Rua Marquês do Lavradio no nosso "Estádio Olímpico", onde rolavam partidas animadíssimas de queimada, polícia e ladrão, mãe da rua e todas as modalidades de pique.

Com o passar do tempo as brincadeiras foram substituídas por festinhas, matinês no Olímpia e Hippodromo, saídas noturnas com hora marcada para chegar em casa, e quando assustamos já éramos adultas... Aí veio a Universidade, cada uma fazendo um curso diferente e, como era de se esperar, nos afastamos cada dia mais. Hoje, muito mais por minha culpa, nos vemos muito pouco. Mas, cada reencontro é, para mim, como se apenas uma semana tivesse se passado desde a última vez que nos vimos. A afinidade, o carinho e a cumplicidade são laços que não se afrouxaram com o tempo, e eu sei que sempre, mesmo quando estivermos bem velhinhas, seremos "as meninas" da família, inseparáveis.

Tão insignificantes e tão pretensiosos...

domingo, 16 de maio de 2010

Sobre os mistérios de cada um


Clarice Lispector nunca voltou ao Egito. Mas, muitos anos depois, relembrou sua breve excursão turística, quando, nas "areias do deserto", encarou desafiadoramente ninguém menos que a própria Esfinge.
"Não a decifrei", escreveu a orgulhosa e bela Clarice. "Mas, ela também não me decifrou."
"Vou ver quem devora quem."

domingo, 9 de maio de 2010

Para a minha mãe...

Mãe, "depois de muitas frases lapidar, eu percebi que as rimas que eu preciso, essas rimas esqueci... e que o verbo amar não se conjuga sem você." (Tom Jobim)

sábado, 8 de maio de 2010

O que ela quer?

O que ela quer é muito. Quer sempre. Ela quer o que não tem nome. Quer rir sem saber de quê. Quer tomar vinho e olhar nos olhos. Ela quer poder soltar o que mora dentro, o que já não cabe. Quer o que não serve pra nada, só pra ela. Quer o desejo, que é menos comportado que a vontade. Ela quer o imprevisto, a surpresa, o coração disparado, o medo de ser bom. Quer música alta e silêncio total. Quer se cobrir de eternidade, pra ficar sempre menina. Ela quer tremer as pernas. Quer a milésima primeira vez. Ela quer ficar vermelha de sem jeito. Quer a alegria besta de quem não tem juízo. O que ela quer é tão simples. Mas, ela já tem muito e ainda quer mais?

Sobre a dura realidade...

Rosas, pensou, sarcasticamente. Bobagens, minha cara. Pois em verdade, quando se tem de beber, comer e deitar, tanto nos bons quanto nos maus dias, a vida não tem nada a ver com rosas.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Sobre o conselho que ela queria me dar...

Essa pequena, pensou Mrs. Dempster (que guardava migalhas para os esquilos e seguidamente almoçava no Regent’s Park) ainda não sabe nada da vida; e, na verdade, seria melhor para ela que fosse um pouco mais forte, um pouco mais lenta, um pouco mais moderada nas suas esperanças.

Descontrolei...

Descontrolei quando vi as fotos dessa menininha.

Ela é filha de um casal de fotógrafos franceses, especilialistas em vida selvagem. Nasceu nos anos 1990 e passou a infância na África. Hoje mora na França. Ah, falar mais não... ficar só vendo e admirando a vida e suas infinitas possibilidades.


quarta-feira, 5 de maio de 2010

Flor e Bubuia

Conviver com os animais ajuda a resgatar um pouco daquilo que você poderia viver: a liberdade e a relação simples com a vida.
Para as titias do Brasil e do mundo que vivem pedindo novas fotos das meninas, aí vão elas...