sábado, 26 de dezembro de 2009

A cicatriz no joelho


Na noite de Natal fui surpreendida em um determinado momento por uma mãozinha curiosa sobre o meu joelho esquerdo. A pergunta veio sem rodeios - que machucado é esse? Na verdade, a menininha observadora e curiosa estava passando os dedinhos sobre uma das muitas cicatrizes adquiridas na minha infância. Expliquei que aquela, especificamente, tinha sido provocada por uma bolinha de árvore de Natal, de um tipo que ela nunca conheceria, e que era feita de um vidro muito fininho. Exercendo a curiosidade sem fim, típica da idade dela, quis saber todos os detalhes daquela aventura...

Fui obrigada a remexer bem fundo no meu bauzinho e resgatar um Natal de quase trinta anos atrás... Contei a ela que, naquele tempo, eu mesma fazia a árvore de Natal, e fui surpreendida por uma carinha desconfiada. Expliquei que a minha árvore, nada mais era que um galho seco, o mais ramificado que eu encontrasse, no qual eu enrolava camadas e camadas de algodão para imitar a neve. Depois de nevado, o galho era preso em um vaso com terra e enfeitado com as bolinhas multicoloridas e muito perigosas para uma menina pequena. Estava pronta a minha árvore.

Como percebi o interesse crescente naqueles olhinhos atentos, resolvi contar a ela que eu fui uma menina de uma época antes da Internet, do celular e até mesmo do controle remoto. Embalada por uma risada de puro divertimento, contei a ela que os telefones tinham fios e eram discados, num disco mesmo. Que a televisão era preto e branco e a gente colocava uma tela na frente, cheia de colunas coloridas, para fingir que tinha cor. Falei que eu ouvia discos de vinil coloridos e fitas cassete, e tentei convencê-la de que apesar de toda essa "precariedade" eu fui uma criança muito livre e feliz, que ia para a escola à pé e sozinha, andava de bicicleta por todo o bairro e "trabalhava" como babá quando ainda tinha idade para ter babás. Passava horas sozinha, brincando de boneca, pulando amarelinha ou elástico. Quando estava com os primos e amigos, fazia cabaninhas no quarto, brincava de polícia e ladrão e transformava o meu quarteirão no melhor lugar para partidas intermináveis de queimada, mãe-da-rua e rouba bandeira.

Depois de explicar à minha inquisidora todas as regras dessas brincadeiras, cruzei com um olhar de dúvida e me sentí na obrigação de dizer a ela que sua infância é muito mais legal que a minha. O que eu não daria para poder conversar com as minhas amigas pelo computador?

Infelizmente, não tive como não pensar no quanto as crianças de hoje são pressionadas e competitivas, e em como as meninas são induzidas a crescer bem mais depressa, tornando-se mulheres antes do tempo...

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