sábado, 7 de novembro de 2009

Leitura inspiradora em tempos de H1N1

A Peste (Albert Camus)


“Irmãos, caístes em desgraça, irmãos, vós o merecestes”!
Com essas palavras o Padre Paneloux enche de pânico a assembléia já tão flagelada.
E continuou, num tom mais veemente: “Se hoje a peste vos olha, é porque chegou o momento de refletir. Os justos não podem temê-la, mas os maus têm razão para tremer. Por longo tempo, este mundo compactuou com o mal, repousou na misericórdia divina. Bastava arrepender-se, tudo era permitido. E para se arrependerem, todos se sentiam fortes. Chegado o momento, o arrependimento viria por certo. Até lá, o mais fácil era deixar-se levar; a misericórdia divina faria o resto. Pois bem! Isto não podia durar. Deus, que durante tanto tempo baixou sobre os homens desta cidade o seu rosto de piedade, cansado de esperar, desiludido na sua eterna esperança, acaba de afastar o olhar. Privados da luz de Deus, eis-nos por muito tempo nas trevas da peste!”

Nada melhor do que uma crise coletiva para revelar ao indivíduo acuado os valores não-individuais, a primazia do coletivo.



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