sábado, 27 de novembro de 2010

Sobre a mula que de vez em quando mora em mim...

...Uma volta atrás da outra, interminavelmente, ia a mula, colocando delicadamente suas patas estreitas como as de uma corça sobre o farfalhante leito de bagaço, seu pescoço meneando dócil como um pedaço de mangueira de borracha na coelheira, com os flancos arranhados e as orelhas pendentes e sem vida, e os olhos semicerrados dormitando malevolentemente atrás de pálidas pálpebras, aparentemente embaladas pela monotonia de seu próprio movimento...

...Não se assemelha nem à mãe e nem ao pai, e jamais terá filhos e filhas; vingativa e paciente (é fato comprovado que é capaz de labutar de bom grado e com paciência durante uma década, em troca do privilégio de escoicear uma única vez o seu dono); solitária mas sem altivez, autônoma mas sem vaidade; até sua voz é um escárnio...

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